A marcha da insensatez

Essa semana não vai ter vídeo. Não me encontro capaz de falar de integridade num mundo que se desintegra a nossa volta.

Ao início dessa mais nova guerra, me lembrei instantaneamente dos meus 6 anos, vendo minha família chegar num navio abarrotado de refugiados, bebês, crianças, idosos, pessoas de todas as idades, vindos da Hungria, com sua vida deixada para trás e só incertezas no futuro. Déjà vu...

Fiquei muito perturbada recapitulando como sou fruto de pessoas que, mesmo perdendo muitos entes queridos pelo caminho, miraculosamente escaparam de duas guerras mundiais, da dominação russa, do antissemitismo desenfreado naquela região do mundo e da revolução húngara.

Lembrei dos meus dois tios que sobreviveram não só a um, mas a dois! campos de concentração (o segundo, russo, aliás), das histórias contadas pela minha tia e de seus esforços heroicos para salvar seu filho, ainda bebê, nos seus braços, andando pelas ruas desertas à noite no auge no inverno. Hoje, eu choro diariamente pela nossa humanidade tão diminuída e tão menosprezada, pelos milhões de vidas ceifadas pela guerra e pelas tantas outras que se seguirão nos próximos dias.

A guerra nunca é uma opção, todos invariavelmente perdem e me declaro uma pacifista convicta. Essas histórias que nos invadem pelo rádio, pelos jornais, pela televisão e pelas mídias é absolutamente terrível, terrível. Que não haja dúvidas sobre isso. Basta ouvir os relatos dos sobreviventes de toda sorte de ignomínia levada a cabo pelos donos do poder.

Muito já foi dito por muitas outras pessoas, muito mais informadas e muito mais competentes do que eu. Apenas recomendo, para quem tiver tempo e não conheça ainda, ler “A Marcha da Insensatez”, que junto a outras obras como “Um espelho distante” e “Canhões de Agosto”, da premiada historiadora Barbara Tuchman, constituem ensaios brilhantes sobre a loucura dos homens e de como suas decisões egoístas e mesquinhas levam à guerra, à morte e à destruição. 1 de março de 2022. Estou de luto.