Olá, conto hoje das atividades do dia 2 do congresso internacional de integridade científica, ocorrendo aqui na Cidade do Cabo. O pano de fundo é sempre a discussão da integridade científica num mundo desigual e como produzir e aperfeiçoar o Cape Town Statement, para além do que já consta das declarações anteriores (Hong Kong Declaration, princípios FAIR, DORA, e assim por diante). A base dessas discussões é o entendimento crescente da necessidade do mundo científico incluir, de modo justo e equitativo, a contribuição dos países menos desenvolvidos, majoritariamente situados abaixo do equador.
Os temas recorrentes são as barreiras de acesso a dados gerados, à transferência de tecnologias e à melhoria das condições de trabalho dos parceiros, perda de autoria, de reconhecimento das parcerias ou desvalorização da contribuição de parceiros menores. Por fim, a dificuldade nos projetos internacionais do investigador principal ser de outro país, que não aquele que financia a pesquisa. Enfim, a discussão sobre a distribuição equitativa de obrigações e benefícios. Parece familiar? Pois é, e, mais uma vez, os africanos lideram essas discussões.
Há o consenso de que as instituições são parte essencial da equação maior integridade científica = maior qualidade da pesquisa. O pesquisador é corresponsável, mas precisa ter o apoio institucional e um ambiente favorável ao aperfeiçoamento das boas práticas. Além de Francis Kombe, falaram também James Lavery e Sue Harrison, reforçando sempre o porquê da equidade nas práticas e parcerias justas sendo parte integral da integridade científica.
Outras apresentações foram sobre a organização Embassy of Good Science (Anna Marusic) e o VIRT2UE; Neil Jacobs falou sobre como implantar a integridade científica de forma invertida, ou seja, primeiro fazendo pequenas intervenções cada vez maiores até chegar na emissão das políticas para todos seguirem. Julia Priess- Buchheit contou sobre formas inovadoras de treinamento no programa Path2Integrity, usando inclusive storytelling (contar histórias) mais voltado para educação do cidadão, uma estratégia que permite que o treinamento possa começar bem mais cedo, ainda na escola. Houve ainda conferências numa plenária, do impacto da Covid na integridade científica, especialmente na África e temas como “fake news”, desigualdade na distribuição de vacinas (mesmo após a participação nos ensaios clínicos!), autoria e acesso aos dados. O apelido disso é helicopter research! Agora rebatizado com o nome de helicopter vaccine...
Gente, houve muito mais. Foram 11 horas de congresso, mas fico por aqui.
Há alguns latino-americanos presentes na reunião, incluindo uns 6 ou 7 brasileiros. Estamos conversando sobre como acelerar o processo de implantação mais efetiva da integridade científica no Brasil.
Se preferir, ouça também no podcast: https://open.spotify.com/episode/5U7zPn1ABniVKR2iFj8OOl?si=PHxi1SdjR4W5c6m9gKDNZQ
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