Como em qualquer profissão, há também entre os cientistas, diferenças apaixonadas de opinião, condutas indevidas e disseminação de inverdades induzidas por ideologia, interesse financeiro ou busca de ganhos políticos. Cabe a você, caro leitor, fazer o exercício de dissecar a informação, com honestidade e objetividade, e decidir por sua própria conta se a informação é sólida, consistente e relevante.
A comunidade editorial também tem importante papel neste processo, na busca de separar o joio do trigo, uma tarefa bastante dificultada pelo crescimento exponencial das publicações científicas e da continuada produção de ciência desleixada (sloppy science) em nível mundial. Em publicação de novembro de 2021 (Strengthening Research Integrity—the Role and Responsibilities of Publishing), Michael N. Barber, membro do Comitê Diretivo para Publicação Científica do International Science Council, sugere, como parte da solução para esse problema, duas ações por parte das editoras.
A primeira é estimular e até exigir a publicação dos dados junto aos artigos e/ou ao menos o emprego dos fundamentos FAIR (verificável, acessível, interoperável, reutilizável), em prol da transparência e acessibilidade dos dados, de forma análoga à colocada em prática pela coalisão para publicação de dados da comunidade das ciências geo-espaciais (http://www.copdess.org/).
Uma segunda ação sugerida é o estímulo à reprodutibilidade e replicabilidade dos resultados. Esta ação passa forçosamente pela revisão estatística por pares para avaliação da consistência e do poder estatístico dos resultados apresentados. Essa prática começa a ser utilizada por revistas de maior impacto e caminha para se transformar em norma pelas revistas de renome. Afinal, como dito na introdução do artigo de Barber, o propósito primordial da publicação científica é tornar acessível, inclusive para a revisão por pares, as conclusões e evidências que dão embasamento ao conhecimento científico, para verificação e posterior validação ou contestação!
Na esteira dessa percepção, a melhor forma de se precaver da informação falsa e das publicações fraudulentas é, por um lado, fazer ciência seguindo os preceitos das boas práticas, e por outro, desenvolver as competências para detectar a mentira e a desinformação. As grandes editoras já estão começando a fazer a sua parte, emitindo guias com orientações e exigências quanto à manipulação de imagens e dados, a acessibilidade mandatória aos dados originais e checklists do que é exigido para publicação em suas revistas. E o futuro já está aí com o advento do uso da inteligência artificial para detectar e combater a desinformação na ciência.
Na era das fake news e da crescente desconfiança, por parte da população, na ciência e nos cientistas, sou da opinião que uma das melhores formas de combater a desinformação é o bom e velho aprendizado de Lógica, que entre outros, ensina o leitor ou ouvinte a lidar com argumentação enganosa, premissas falsas e lógica distorcida. Boas leituras!
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