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  • Anna Goldberg

Economia da atenção: Já ouviu falar nesse termo?


Aprendi uma nova essa semana. Economia da atenção é termo cunhado pelo psicólogo Herbert A. Simon, que recebeu o prêmio Nobel em 1978 pelo seu trabalho desenvolvendo a Economia Comportamental. De acordo com a Wikipedia, economia da atenção é uma forma de gerenciar a informação partindo da premissa que a atenção dos indivíduos é um bem escasso, aplicando vários instrumentos da teoria econômica na resolução de problemas de gestão da informação. Nesse contexto, de acordo com Davenport e Beck, a atenção é o engajamento mental focado num item específico de informação.


Esse foi o fio que puxei a partir de um artigo muito interessante que li e compartilho com vocês aqui. Trata-se do: The credibility of science is damaged when universities brag about themselves, por Adrian Lenardic e Johnny Seales, que pode ser lido ou ouvido na integra em https://bigthink.com/the-present/attention-economy-science-damaged/. Esse ensaio, que achei brilhante, parte da noção original da economia da atenção, e de como a digitalização e as mídias sociais passaram a dominar não só as nossas vidas privadas, mas especialmente as profissionais. Na academia não é diferente.


Ao adotar modelos de negócios baseados nas forças do mercado, as universidades também aderiram à economia da atenção. Professores e docentes são instados a ocupar as mídias sociais, a se comunicarem a todo tempo com o público, a divulgarem seus resultados numa luz favorável e a chamarem quanto mais atenção for possível. O marco de visibilidade agora inclui indicadores como o Altmetrics (https://www.altmetric.com/), cuja chamada é: Descubra quanta atenção seu trabalho está obtendo. Tudo isso aumenta a competitividade das instituições, valorizando a marca e facilitando a obtenção de financiamento, num ciclo virtuoso de crescimento. O mesmo vale para as editoras de revistas científicas, que chegam a oferecer planos para os autores alcançarem mais atenção, com chamadas do tipo: Faça a sua ciência alcançar a atenção que ela merece (“get your science the attention it deserves.”). Os cientistas com maior cacife, naturalmente, tenderão a crescer mais rapidamente em suas carreiras.


E é aí que mora o perigo! Resultados são apresentados ao público antes da necessária sedimentação do conhecimento, da revisão pelos pares, da crítica construtiva, e, muitas vezes, deixando os colaboradores e parceiros em segundo plano. Estudos que reproduzem apenas ou até que refutam achados anteriores deixam de ser interessantes por não alcançarem a atenção das mídias. Esse estado das coisas alimenta a crise de reprodutibilidade, a competição pouco salutar entre pesquisadores de uma mesma área ao invés de estimular a colaboração entre pares, o dilúvio de informação científica que cansa o público e os resultados divergentes que geram uma população de céticos da ciência.


Assim, paradoxalmente, a busca incessante de atenção acaba tendo o resultado oposto ao desejado: a perda da confiança na ciência e no bem que ela gera para toda a coletividade. Por fim, há de se lembrar que a competição desenfreada por atenção é um criadouro fértil de más condutas, por aqueles que trabalham sem a necessária integridade científica. Esta passou a ser um bem cada vez mais valioso no trabalho dos pesquisadores, sendo exigido justamente pelas organizações acadêmicas de renome e pelas grandes editoras internacionais, que buscam separar o joio do trigo e combater a desinformação e a perda de credibilidade da ciência.


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