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Anna Goldberg

Helicopter research: Você conhecia esse termo?


No Capetown Statement, declaração que está para sair como resultado dos debates ocorridos durante o sétimo congresso internacional de integridade científica (https://wcri2022.org/), haverá um enfoque majoritariamente voltado para as desigualdades de oportunidades e de participação de pesquisadores europeus, americanos e canadenses e os pesquisadores do resto do mundo, em especial na África e na América Latina.


Batizada de helicopter research, numa alusão ao pesquisador que chega num helicóptero bacanudo, coleta amostras e dados e parte sem deixar benefício para o país e a população que estudou, o assunto foi largamente veiculado na comunidade científica. Nas conferências e discussões havidas no congresso, ficou claro como a pandemia do coronavirus trouxe maior conscientização destas profundas desigualdades: no acesso a financiamento da pesquisa, no acesso a infraestrutura e a dados relevantes, e, por fim, no acesso a uma melhor medicina e aos benefícios trazidos pelos medicamentos e vacinas.


No caso da África do Sul, por exemplo, o país não consegue acesso às próprias vacinas que ajudou a ensaiar e apenas em torno de 1/3 da população foi vacinada.

Vários editoriais e matérias ganharam as manchetes no THE (https://www.timeshighereducation.com/news/africa-sees-end-helicopter-research-pandemic-changes-minds), na revista Science (https://www.science.org/content/article/helicopter-research-comes-under-fire-cape-town-conference) e no grupo Nature (https://www.nature.com/articles/d41586-022-01423-6 ). Um dos pontos levantados são de que esse tipo de pesquisa falha nos preceitos éticos que devem reger a atividade de pesquisa.


Por deixarem de estabelecer parcerias que respeitem os cientistas (ao ponto de exclusão de autoria e ausência de transferência de tecnologias e conhecimento) e os habitantes locais, são moralmente condenáveis e, portanto, uma questão de integridade científica.


Em outras palavras, os debates giraram em torno de como introduzir soluções em nível de governos, instituições e grupos editoriais, para buscar eliminar essas práticas de décadas e séculos, que a vice-reitora da universidade de Capetown chama de colonialismo científico. Essa visão é compartilhada por pesquisadores brasileiros e de outros países da América Latina. James Lavery, um bioeticista da universidade de Emory, nos EUA, concorda que visão atual da integridade científica, com foco em fraude, plágio e proteção do participante da pesquisa, é insuficiente e que esta gradualmente está expandindo para incluir questões de autoria, de assédio e, agora também de equidade.


Numa iniciativa pioneira, o grupo editorial Nature, baseado num Código de Conduta na Pesquisa em Locais com Baixos Recursos elaborado pelo grupo Europeu TRUST e no Código de Ética em Pesquisa do povo San da África do Sul, passa agora a exigir o preenchimento de um questionário quando da submissão de um manuscrito. As questões incluem informar se cientistas locais participaram do desenho e da execução da pesquisa, se a pesquisa é relevante localmente, se os benefícios da pesquisa serão compartilhados, e até se a proteção ao meio ambiente e cuidados animais seguiram as normas mais exigentes dos países mais desenvolvidos! Mais do que nunca, incluir treinamento em boas práticas e debates éticos na formação de nossos universitários é essencial se quisermos participar e usufruir da ciência global.

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