Você já se perguntou como é que o editor daquela revista científica tomou a decisão de revisar ou rejeitar aquele artigo que você submeteu? Ou por que demora tanto para se receber uma resposta? Pois é, nessa matéria vou tentar matar pelo menos parte da sua curiosidade contando um pouco sobre a visão do outro lado do balcão.
Em matéria de agosto de 2022, Angela Cochran, VP de Publicações da Sociedade Americana de Oncologia Clínica, publica texto sobre o assunto no Scholarly Kitchen (https://scholarlykitchen.sspnet.org/2022/08/22/revisiting-should-you-revise-and-resubmit-probably/).
Primeiramente, deixa claro que os editores de revistas científicas, e, em especial, daquelas de alto impacto, se encontram sob imensa pressão para decidir rapidamente, publicar em tempo hábil e manter o enorme fluxo de submissões sob controle.
Em contraste, a forma tradicional de processamento de um artigo consiste em um fluxo lento passando pelo editor, seguido talvez de um editor de área e mais dois ou três revisores ad hoc. Estes últimos, que naturalmente terão um prazo razoável para sua análise, deverão dar sua avaliação do manuscrito e de seu conteúdo de forma a embasar a decisão do editor de solicitar a revisão, seguido da submissão de novo e a repetição desse processo até que o artigo seja considerado apto para publicação. Um processo no mínimo longo, trabalhoso e, certamente, oneroso.
Então, como o editor deve proceder para dar conta dessas questões? Depende. Tipicamente, se as correções solicitadas são de pequena monta (minor) e as chances de não precisar de correções adicionais for pequena, a decisão é fácil. Mas se forem necessárias modificações substanciais (major) que demandarão tempo dos autores, dos revisores, e provavelmente mais de uma rodada de revisões, o editor precisará ponderar se pede para submeter novamente ou simplesmente se rejeita o artigo. Afinal, revistas que demoram demais para publicar um artigo perdem credibilidade!
Por outro lado, Angela comenta que, como editora de diversas revistas, constatou que o número de artigos recebendo o carimbo de revisão major que acabaram sendo publicados supera os 80%. Ela diz que depois de investir tempo de editores, revisores e autores na melhoria dos manuscritos, parece injusto rejeitá-los, afinal.
O corolário é que, em revistas de alto impacto, se um artigo precisar de melhoria substancial, que pode levar muito tempo para ser obtida (por exemplo, fazendo novos experimentos), o editor deve optar por rejeitar o artigo, mesmo se acompanhado do convite de nova submissão após as correções efetuadas. Um outro expediente utilizado por revistas, em especial às pertencentes a grupos editoriais como Nature, Lancet, Science ou PLoS, é o de encaminhar artigos que têm qualidade, mas demorariam para passar os ciclos de revisão e submissão de novo, para outras revistas do mesmo grupo, com um foco mais específico e/ou impacto menor.
Compreender esse papel decisório do editor ajuda os autores a entenderem que, antes de mais nada, devem responder a todas as questões e que mesmo se não concordam devem dar uma satisfação e explicar o porquê escolheram não efetuar aquela modificação. Isso faz parte do jogo e é um sinal de respeito aos editores e revisores. Uma outra iniciativa, pouco utilizada por autores brasileiros, mas que também faz parte do jogo, é a de, eventualmente, contatar o editor, caso não concorde com as opiniões de um revisor ou ache os pedidos de modificação exagerados.
E uma palavrinha final: Não leve para o lado pessoal. Publicar artigos científicos é difícil e trabalhoso para todos e exige paciência e disciplina. E lembre-se: o editor pode ser seu aliado. Trate-o bem!
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