A newsletter do Scholarly Kitchen, do dia 28 de março de 2024, trouxe uma agradável surpresa. Um ensaio escrito por Angela Cochran, Vice-Presidente de Publicações da Sociedade Americana de Oncologia. O artigo dela que pode ser lido no link abaixo, chamou muita atenção.
Nas palavras minhas e de outro leitor: um ensaio provocativo contendo muitos comentários perspicazes. Esses artigos estão abertos a comentários dos leitores e, esse, em particular, suscitou dezenas de comentários de toda a ordem. Na última vez que olhei tinha já 45 comentários! Tentarei resumir o assunto a seguir.
No artigo, Angela Cochran mostra a situação das editoras que foram alvo de vários escândalos. No caso da Hindawi, a retratação de milhares de artigos por serem provavelmente originários dos paper mills. No caso da Frontiers, a publicação de de figuras ridículas geradas por inteligência artificial. No caso da Wiley, o anúncio da achado de 10-13% dos artigos submetidos tendo provável origem nos paper mills, sem contar as várias instâncias de artigos detectados como tendo sido criados pelo ChatGPT e similares. As editoras se encontram sob fogo, tendo gastos crescentes frente o perigo de perder impacto, credibilidade e mais.
A autora coloca seu ponto de vista e foi este que gerou todos os comentários. Na opinião dela, as revistas não deveriam ser os responsáveis primeiros pela detecção da má-conduta, correção dos erros e punição dos autores. E aponta o dedo para as INSTITUIÇÕES e as Agências Financiadoras.
Mesmo sendo uma minoria dos artigos submetidos anualmente (0,2% são retratados), o trabalho de detecção de plágio, paper mills, autorias e outras checagens de integridade tem de ser feitas em todos os manuscritos, um trabalho de Sísifo, pois tem de ser revisto, ao final, pessoalmente. Pior, se artigo for rejeitado ele acaba sendo enviado para outra revista que tem de começar todo o processo de novo. Conclui-se que mesmo com a melhor boa vontade, não é possível as editoras darem conta dessa tarefa sozinhas. Nas palavras de Angela Cochran:
The bottom line is that journals are not equipped with their volunteer editors and reviewers, and non-subject matter expert staff to police the world’s scientific enterprise.
Quando esses casos ocorrem, é comum que o manuscrito seja remetido de volta para as instituições para verificação. E aí começa um trabalho hercúleo de encontrar para quem enviar (sua instituição tem um escritório ou comitê de integridade científica?), de insistir no processo devido, de obter uma resposta coerente. Em resumo, o que é proposto nessa artigo é que as instituições façam esse papel previamente à submissão e que as editoras recebam os textos com o aval da sua instituição de origem, compartilhando, portanto, da responsabilidade da curadoria do conhecimento científico submetido publicamente.
Continua amanhã, não deixe de voltar aqui para meu post!
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