Confesso que esta última matéria da série - oportunidades de carreira – foi a mais difícil, pois não é minha
área de atuação. Sei que essas oportunidades existem pois tenho vários colegas e ex-alunos que trabalham
na indústria farmacêutica ou nas empresas de apoio a essas indústrias. No entanto, a percepção de que essa área não se enquadra nas aspirações do jovem acadêmico, não é errada, uma vez que a esmagadora maioria das grandes farmacêuticas conduz suas pesquisas em países desenvolvidos, onde costumam ter suas sedes.
Assim, esse tipo de pesquisa é feito em maior escala nos EUA, Canadá e países no continente europeu.
Então, com a ajuda de minha colega e parceira Keila Kussunoki, busquei maiores informações numa indústria farmacêutica nacional. Nas palavras de Keila - Na indústria farmacêutica, há departamentos onde a formação acadêmica (pós-graduação lato ou stricto sensu) não é um requisito para ocupação de cargos.
Muitas vezes a experiência profissional, a vivência e a bagagem de conhecimento prático têm maior peso em relação à formação acadêmica. Por outro lado, há departamentos em que a pós-graduação lato e stricto sensu são requisitos ou, ao menos, desejáveis, como por exemplo, na área da pesquisa clínica, em P&D e na Metodologia Analítica, onde são necessários conhecimentos mais específicos e aprofundados.
Nesta última, há mercado de trabalho para o profissional em Biofarmácia/Biotecnologia, com atuação em Downstream (DSP). O processamento downstream biofarmacêutico refere-se à recuperação e purificação de uma substância medicamentosa de fontes naturais, como células animais ou bacterianas e é usado na obtenção e purificação de anticorpos monoclonais e de proteínas, bem como na fabricação de oligonucleotídeos, polissacarídeos e diversas vacinas. Para saber mais consultem o link:
https://www.mt.com/br/pt/home/applications/L1_AutoChem_Applications/fermentation/downstream-processing-in-biotechnology.html. Há também diversas empresas que prestam serviços para ou são ligadas às indústrias farmacêuticas.
São carreiras em escritórios de patentes, numa trilha mais industrial (para mais informações
consulte a página do ICTQ ( www.ictq.com.br ), e em serviços de apoio, no Brasil e no exterior, para
descoberta, validação, certificação e documentação de novos medicamentos (ex:
www.nuvisan.com/home.html).
A pesquisa clínica já foi abordada numa matéria anterior sobre oportunidades de carreira. Já nas áreas da
indústria farmacêutica que lidam com pesquisa e desenvolvimento, as exigências incluem não só a titulação,
mas, também, experiência em pesquisa científica, notadamente em certas áreas como imunologia,
microbiologia, química fina, bioquímica e farmácia, biotecnologia e genética. As oportunidades são únicas e
há casos emblemáticos de empreendedores e pesquisadores, que desenvolveram todas as suas carreiras
ligados à indústria farmacêutica. Uma rápida passada no linkedin na busca de antigos colegas, todos
titulados, e o “onde estão agora”, trouxe resultados bastante encorajadores.
Encontrei vários: Medical Science Liaison fazendo a ponte como uma biotech americana e ainda outros ocupando este mesmo cargo em organizações diversas, diretor numa startup envolvido com a validação de tratamentos oncológicos para gente e para animais, gerente de projetos numa farmacêutica nacional, diretora associada com cargo no braço brasileiro de uma indústria farmacêutica internacional, gerente médica associada a uma outra farmacêutica internacional, especialista em toxicologia, oficial de ciências no terceiro setor, vice-presidente de operações em startup biomédica no Canadá, e, por fim, alguns em cargos de pesquisador, tanto em empresas farmacêuticas de grande porte quanto em outras pequenas e promissoras empresas do ramo.
A propósito de áreas de trabalho, para egressos da academia, na indústria farmacêutica, comento sobre o
prêmio Nobel de Química 2022, dividido entre dois pesquisadores americanos, Carolyn Bertozzi e Barry
Sharpless, e o dinamarquês Morten Meldal, pioneiros no desenvolvimento da click chemistry (química do
clique) e da química biortogonal. E o que vem a ser isso?
Click chemistry é uma forma simples e confiável de juntar moléculas (usando cobre, glicanos e outras
formulações). Recebeu a carinhosa comparação com a construção usando peças de Lego (A way to snap
molecules together like Legos wins 2022 chemistry Nobel, Science News, em 6 de outubro de 2022). Sem
gerar subprodutos indesejados ou interferir com sistemas biológicos (química biortogonal), tem potencial
revolucionário para o desenvolvimento de produtos farmacêuticos e ensaios diagnósticos.
Adicione-se técnicas de sequenciamento de ácidos nucleicos, passando por síntese química, bioconjugação, microscopia e imageamento com fluorescência, síntese combinatória, análise proteômica, transporte in vivo de drogas, para citar a lista lembrada pelo químico dinamarquês Mikael Bols (https://www.the-scientist.com/news-opinion/biocompatible-reactions-in-living-cell-s-garner-chemistry-nobel-
70586?utm_campaign=TS_DAILY_NE%E2%80%A6). Ou seja, há um sem-número de possibilidades de
pesquisa e desenvolvimento na indústria farmacêutica para quem dominar esse conhecimento. Bora lá!
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