Apesar de aqui no Brasil a academia ainda ser a carreira sonhada por uma significativa maioria de ingressantes na pós-graduação, é crescente a percepção de que esse é um caminho difícil e cada vez mais seletivo. Além de muito competitivo, o ingresso na carreira está sujeito à expansão das universidades e à criação de novas vagas, uma realidade cada vez mais distante. Então o que fazer?
Existem muitas oportunidades de carreiras que necessitam de pós-graduandos, pois estes oferecem o conhecimento e a experiência necessários a um excelente desempenho. Bons exemplos são as atividades ligadas à pesquisa clínica, seja nos centros de pesquisa clínica, nas indústrias farmacêutica e química, nas organizações voltadas para a gestão da qualidade e na inovação.
O emprego de pós-graduandos e jovens pesquisadores ligados à pesquisa clínica tem sido foco crescente de interesse por parte das empresas voltadas para a pesquisa e desenvolvimento. Em parte, esse fenômeno é alimentado pela profusão de ensaios clínicos conduzidos de forma inadequada na esteira da pandemia da Covid-19. Matéria de abril de 2022 (https://www.the-scientist.com/news-opinion/clinical-trial-reporting-errors-undermine-transparency-70300?utm_campaign=TS_DAILY_NEWSLETTER_2022%E2%80%A6) na revista The Scientist, analisando apenas dados de ensaios clínicos gerados durante a pandemia e registrados no site americano https://clinicaltrials.gov/ (registro usado internacionalmente) expõe como a gestão da qualidade nessa área é insuficiente, Transcrevo aqui um parágrafo dessa matéria: “ Our examination of a subset of COVID-19 trial records shows that some of this information can be wildly inaccurate. Specifically, listed end dates for studies can be wrong by months or even years—meaning that reporting deadlines based on those dates are essentially arbitrary. The findings, which in some cases appear to reflect a lack of understanding among researchers about how to use the database, imply that many more studies than previously appreciated could be in violation of US reporting regulations.“
E você sabia que aqui no Brasil, desde 2012, o ReBEC (Registro Brasileiro de Ensaios Clínicos), em conformidade com a exigência da ANVISA, armazena os dados referentes a ensaios clínicos fases I, II, III e IV. De forma similar ao que ocorre no site americano principal, o desconhecimento das normas brasileiras é generalizado indicando mais uma área de atuação na gestão da pesquisa clínica. As controvérsias são muitas. Em matéria por Cathleen O’Grady, no final de 2021 na revista Science, o título já diz tudo: “It's misinformation at worst.’ Weak health studies can do more harm than good, scientists say”.
Como resultado, não só o NIH (National Institute of Health) que gerencia o site americano de registro, mas também revistas médicas de impacto e agências financiadoras nacionais e internacionais, passam a exigir não só registros apropriados, mas também a governança de toda informação ligada à condução correta dos ensaios clínicos de acordo com as Boas Práticas Clínicas aceitas internacionalmente (Good Clinical Practices ou GCP). Artigo de agosto de 2022 por Weibel e colaboradores (https://doi.org/10.1002/jrsm.1599) ilustra bem essa questão pois trata do desenvolvimento de uma nova ferramenta de governança de ensaios clínicos.
Assim, há muitas oportunidades no crescente mercado de ensaios clínicos, para além das carreiras na indústria farmacêutica. São exemplos as carreiras no desenvolvimento de novas drogas na indústria química, na gestão da qualidade em centros de pesquisa clínicas e nas ORPCs, no planejamento, desenvolvimento e execução de ensaios clínicos em hospitais, em biotechs e startups e em redes de laboratórios diagnósticos. E mais, há lugar para médicos, enfermeiras, biomédicos e biólogos, farmacêuticos e até formandos de outras áreas como engenharia de computação, estatística, bioinformática, biotecnologia, engenharia biomédica, advocacia, administração, marketing e comunicação.
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