A propósito de editorial publicado (DOI: https://doi.org/10.24170/18-2-4879), Research integrity and societal trust in research por Horn, Bouter e Kleinert, me lembrei das controvérsias que rodeiam a literatura de células-tronco.
Nesse editorial os autores desfilam comentários sobre os dois tipos de comportamento que ferem a integridade científica e causam forte impacto na confiança da sociedade: a má-conduta pura, mas nada simples, da fabricação, falsificação e plágio (https://doi.org/10.1038/nature.2014.14974).
São campeões do primeiro tipo de comportamentos: Haruko Obokata, que alegou ter desenvolvido um método revolucionário de produzir células-tronco usando banhos ácidos ou força mecânica e Woo-Suk Hwang, que dizia ser capaz de clonar células embrionárias para produzir tecidos visando a medicina regenerativa. Em segundo lugar, a forma muito mais comum e espalhada por toda a comunidade científica, é a das práticas questionáveis na pesquisa.
Essa, também recebe o nome de ciência desleixada (sloppy science), e, como diz o nome, se caracteriza pela falta de zelo e cuidados na condução dos experimentos, na gestão dos dados, na análise dos resultados e no viés de publicação. Essas práticas acabam causando problemas difíceis de detectar e debelar, mas consequências claras, que são o enorme desperdício de recursos financeiros e intelectuais pela comunidade científica, opções por políticas públicas equivocadas e a deterioração da credibilidade da ciência perante as sociedades. Vivemos, continuamente, os efeitos da falta de confiança na ciência que levam a mortes desnecessárias pela pandemia de Covid-19, pelas mudanças climáticas, pelo uso do fumo e pela recusa aos alimentos geneticamente modificados.
O terceiro comportamento descrito no editorial é aquele que almejamos, que são as práticas responsáveis da pesquisa. Estas incluem, além da governança no próprio ato de fazer pesquisa, a participação dos stakeholders (interessados institucionais, empresariais, públicos e comunitários) e a comunicação honesta e transparente. Inclui também o esforço permanente da formação de recursos humanos de excelência, da colaboração com justiça e equidade e da discussão aberta e inclusiva na fronteira do conhecimento. Que desafio!
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