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  • Anna Goldberg

Você já ouviu falar de risco existencial?


Pois é, risco existencial sempre existiu, mas certamente adquire contornos mais sombrios no mundo atual. Davi Lago nos esclarece que o termo foi cunhado por Robert Oppenheimer, um dos pais da bomba atômica, e sua equipe. Esse risco trata das possibilidades de destruição parcial ou total da humanidade e entre os diversos institutos e universidades onde esse tema é abordado, destaco a Universidade de Cambridge e seu CSER, Centre for the Study of Existential Risk (https://www.cser.ac.uk/), um think tank que congrega mais de 50 pessoas dedicadas ao estudo e abrangência desses riscos e ao desenvolvimento de formas de mitigá-los. A forma mais eficiente de determinar esses riscos passa pela identificação de tecnologias que possam ter uso duplo, isto é, possam ter uso militar além do uso civil. O emprego de energia nuclear é um claro exemplo do que se quer dizer com uso duplo ou dual de tecnologias. Outro exemplos muito atuais são o do desenvolvimento de novos usos baseados em inteligência artificial e o próprio aquecimento global.


Baseados nos Estados Unidos e com filiais em vários países, a CRDF Global é uma organização sem fins lucrativos que busca lidar com essas questões por meio da ciência, inovação e colaboração (https://www.crdfglobal.org/), que tem seu olhar voltado para a inclusão de países em todos os continentes, incluindo, mais recentemente, o Brasil. Na qualidade de consultora tenho auxiliado essa organização a desenvolver o seu trabalho em nosso país. Em agosto de 2022 ocorreu uma segunda rodada de palestras, ministradas desta vez pela Dra. Catherine Rhodes, que já foi a Diretora Executiva do CSER e tem trabalhado há mais de 15 anos na área, em vários temas que incluem riscos biológicos e tecnológicos.

As duas palestras procuraram esclarecer, para uma plateia de pesquisadores e funcionários acadêmicos convidados, como a integridade científica e as boas práticas estão estreitamente ligadas à mitigação de riscos existenciais, ao mesmo tempo buscando introduzir uma maior conscientização desses riscos. E por que isso é tão importante?


Num mundo globalizado e altamente tecnológico, os riscos são variados e cada pesquisador, em sua área específica deve buscar proteger não só a si, mas também à sua instituição e à sociedade em geral. Por este motivo são essenciais a divulgação, o treinamento de pesquisadores tanto mais seniores quanto os em início de carreira, a introdução de diretrizes e normas de uso e proteção contra o risco do uso dual dos resultados de uma pesquisa ou de tecnologias inovadoras.


Mais especificamente no campo dos riscos biológicos, uma área da ciência cada vez mais informatizada, é importante que estes riscos sejam identificados, pois além daqueles inerentes ao uso malicioso e mal-intencionado existem também os riscos de biossegurança desencadeados por desconhecimento, por acidentes e imprevistos ou mesmo originalmente desenvolvidos com objetivo benigno, mas que acarretam danos à sociedade de forma não intencional. A mensagem deixada pela Dra. Rhodes foi clara. É de suma importância que as instituições brasileiras tomem conhecimento desses riscos para que possam implementar iniciativas educacionais e de conscientização, possam desenvolver suas políticas e procedimentos de acordo com suas necessidades, se adequem às demandas internacionais no que se refere à troca de informação e às condutas responsáveis na pesquisa e possam dar satisfação aos financiadores, editores, governo e público em geral.

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