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  • Anna Goldberg

A crise de reprodutibilidade nos ensaios pré-clínicos


A propósito da tão comentada crise na reprodutibilidade dos experimentos, que afeta diretamente a integridade da informação científica e acarreta prejuízos milionários globalmente, escrevo aqui sobre um editorial muito interessante que saiu na revista Nature (Understand the real reasons reproducibility reform fails, https://doi.org/10.1038/d41586-021-03617-w).


Nesta matéria, Nicole C. Nelson, Professora Associada do Departamento de História da Medicina e Bioética da Universidade de Wisconsin-Madison, relata a experiência pessoal dela na busca de entender as razões da falta de reprodutibilidade em ensaios pré-clínicos.


Em pesquisa etnográfica (estudos de hábitos e culturas de um certo grupo social), esta pesquisadora buscou entender quais as reais dificuldades em implantar as recomendações das boas práticas na pesquisa pré-clínica.


As recomendações principais para minimizar a falta de reprodutibilidade, muito presente na pesquisa pré-clínica, são as de introduzir o mascaramento (cegamento) do pesquisador que efetua o estudo, de estimar o tamanho amostral apropriado e de especificar as regras para a gestão dos dados (conforme pode ser visto no artigo de um grande grupo de autores (Landis, S., Amara, S., Asadullah, K. et al. A call for transparent reporting to optimize the predictive value of preclinical research. Nature 490, 187–191 (2012). https://doi.org/10.1038/nature11556).


Dez anos após esta publicação, os problemas persistem e a ideia de que os pesquisadores não seguem as regras por desleixo, ignorância ou pressa em alcançar a publicação de seus dados pareceu pouco convincente para esta pesquisadora. Ela então resolveu perguntar pessoalmente aos pesquisadores o porquê desta situação.


Qual não foi a sua surpresa ao deparar com uma realidade muito diferente, desfiada pelos seus colegas. Estes informaram que o foco principal era o de manter a integridade dos experimentos e de respeitar as rotinas nos biotérios!


Por exemplo, o mascaramento dos grupos de tratamento causa riscos de identificação errônea e contaminação cruzada no caso de infeções. Um pesquisador contou como anos de cruzamentos entre camundongos tinham sido perdidos porque as marcas das orelhas tinham caído, cartões haviam sido trocados e planilhas tinham erros de transcrição. E mais, no caso de efeitos muito pronunciados resultantes do experimento o cegamento era inútil.


O exemplo dado foi: Não dá para se enganar a ponto de ver um tumor quando não há nenhum! Mas esse mesmo pesquisador concedeu que efeitos discretos deveriam ser analisados sob protocolos de cegamento experimental. O mascaramento exige também que haja outros pesquisadores ou assistentes envolvidos levando demandar o tempo de outros colegas. E mais, a regulamentação americana exige que o genótipo esteja demarcado nas gaiolas o que acarreta muitas vezes a perda de mascaramento. O uso de vetores virais exige a segregação dos animais o que igualmente leva à perda do mascaramento.


O editorial finaliza comentando sobre a utilidade deste tipo de pesquisa, pois ao trazer a tona os reais problemas, abre caminho para soluções inovadoras e mais eficientes.

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