Notícias e mais notícias, continuação
- Anna Goldberg
- 30 de abr.
- 3 min de leitura

Gente, continuo não dando conta de tantas notícias! Aqui vão mais algumas.Primeiramente, ligadas à crise de reprodutibilidade
• Olavo do Amaral, Professor Associado do Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis, da UFRJ, acaba de publicar na plataforma BioRxiv (https://www.biorxiv.org/content/10.1101/2025.04.02.645026v3) os primeiros resultados da pioneira Iniciativa Brasileira de Reprodutibilidade(https://www.reprodutibilidade.bio.br/). Os resultados (comentados na revista Nature) mostram que a reprodutibilidade até de métodos básicos utilizados nos laboratórios de biologia experimental está bem abaixo do esperado. O estudo, a discussão dos resultados e as conclusões alcançadas pelos autores são um convite para pesquisadores nacionais e mesmo de outros países em desenvolvimento, de reflexão sobre a qualidade de sua práticas de laboratório e as consequências que isso traz para a integridade científica e credibilidade de seus trabalhos.
• Garret FitzGerald (continuando no assunto de reprodutibilidade) escreve uma excelente reflexão sobre a questão da reprodutibilidade e a distinção a fazer com afraude de dados (https://www.cambridge.org/core/journals/journal-of-law-medicine-and-ethics/article/segregate-assessment-of-data-validity-from-the-more-complex-issue-of-fraud/5E6FB0AFA747EFD6F156526DA82BCF90), bem como formas e políticas a serem adotadas que poderiam mitigar a crise de reprodutibilidade percebida pela comunidade científica e pela sociedade e auxiliar na manutenção da credibilidade e da confiança na ciência.
• FDA, a agência americano responsável pela aprovação de novos medicamentos, anunciou em 10 de abril (FDA Announces Plan to Phase Out Animal Testing Requirement for Monoclonal Antibodies and Other Drugs | FDA), seus planos para substituir estudos pré-clínicos em animais por outras metodologias, no caso de testes de anticorpos monoclonais e outros fármacos. Essa iniciativa inovadora, nas palavras do próprio FDA, foi desenhada para melhorar a segurança dos novos medicamentos, acelerar os procedimentos de avaliação (utilizando metodologias mais próximas do humano, como por exemplo, o emprego de organoides) e diminuir os custos de pesquisa e desenvolvimento, com o objetivo final de diminuir os preços dos medicamentos oferecidos à população. Podemos adicionar, aos muitos benefícios, a melhora da reprodutibilidade, quando se passa a usar testes in vitro, melhor adaptados ao organismo alvo (o ser humano) e cuja variabilidade pode ser controlada de modo mais eficaz.
Agora histórias e iniciativas no combate à fraude na ciência, em especial na área da publicação científica
• Alberto Martín-Martín e Emilio Delgado López-Cózar integram a turma de detetives que trabalham com a cientometria forense na busca de pistas que conduzem às revistas predatórias, paper mills e mais. Nessa publicação disponibilizada numa plataforma de livre acesso (https://zenodo.org/records/15213855), dois professores da Universidade de Granada, Espanha desfiam o tortuoso caminho de uma nova modalidade de crime contra a ciência: a aquisição de revistas com boa reputação e sua transformação em máquinas de produzir lixo. São os “journal snatchers”. Os pesquisadores basearam suas análises em redes de autoria compartilhada, sem uma correlação com área de estudo, e padrões anômalos de citação que ocorrem após a compra de alguma revista. Um verdadeiro labirinto, que pela primeira vez, no meu conhecimento, cita uma revista brasileira. A Revista Brasileira de Patologia e Medicina Laboratorial, agora com nome em inglês, não cita a editora na sua página e o conselho editorial não tem um único brasileiro. Em outubro de 2023 deixou de ser indexada na plataforma Scielo. Uma história de deixar qualquer novela no chinelo. A conferir os próximos capítulos!
• Na continuação do mesmo assunto, Cristine Laine, editora chefe do Annals of Internal Medicine e colegas editores de outras revistas do mais alto impacto como The Lancet, Nature Medicine, JAMA e New England Journal of Medicine, além de representantes do ICJME e National Library of Medicine (responsável pelo PubMed) lançaram um manifesto de duas páginas, simultaneamente, em janeiro de 2025 sob o título - Predatory Journals: What Can We Do to Protect Their Prey?- oferecendo um resumo objetivo de sugestões para pesquisadores e instituições detectarem revistas predatórias e suas nefastas ações e evitar de cair nas armadilhas. Vale a pena ler sempre que for submeter um artigo para publicação!
• From Russia, fake e mais fake! Por fim, uma história da carochinha, que ilustra bem os tortuosos caminhos das publicações falsas, venda de autoria e artigos, cartel de citações e toda a sorte de malfeitos. Trata-se de artigo na revista The Insider (https://theins.ru/en/news/280722) que desfia a vida dupla de um pesquisador russo, dito Dmitry Bokov, especialista de química farmacêutica na Universidade de Sechenov em Moscou. Está referenciado também no linkedin, facebook, X e Bluesky. Chega a ser engraçado se não fosse trágico e, francamente, o enredo é tão intricado que só posso sugerir que leiam a história toda. Sean Connery ficaria com inveja!
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