A corrida em direção à integridade científica segura e eficiente está em pleno andamento. Trago hoje um exemplo de iniciativa com essa meta. Julguem por si mesmos se acham que será eficiente, se apenas vai quebrar o galho por enquanto, mas precisa de mais desenvolvimento para ser efetiva ou se não servirá para nada no futuro!
Gostariam de saber quanto a ciência rende aos editores das revistas nas quais publicamos os nossos trabalhos? Artigo recentemente publicado por Stefanie Haustein e colaboradores (Estimating global article processing charges paid to six publishers for open access between 2019 and 2023 - https://arxiv.org/pdf/2407.16551), da Universidade de Ottawa e outras instituições canadenses, expõe como as grandes editoras se beneficiam do acesso aberto em geral e, principalmente, do sistema de pagamento pelo autor para publicação em acesso aberto, seja no formato híbrido ou exclusivo (gold). A falta de transparência das editoras dificulta em muito esse cálculo, mas aqui os autores fizeram uma conta de chegar que pode ser resumida em contar todos os artigos publicados e quanto devem ter custado de acordo com as próprias listas de preço disponíveis publicamente nas seis maiores editoras (Elsevier, Frontiers, MDPI, Wiley, PLoS, Springer-Nature).
As perguntas do estudo foram: 1) Quanto foi pago às 6 maiores editoras entre 2019 e 2023 /2) se havia diferença entre o modelo ouro e híbrido? /3) se havia diferença entre as editoras. Após uma série de correções (para inflação, para subsídios, etc...) os autores chegaram ao valor de 6565.90 milhões de dólares pagos para a versão gold e 2402,30 milhões para a versão híbrida. A análise por editora mostra que nas que tem ambas as versões, o ingresso de pagamentos para a versão híbrida é um pouco mais alto. Parece uma contradição, mas é necessário lembrar que PLoS, MDPI e Frontiers só tem o plano gold, daí o valor total mais alto. De todas as editoras apenas a PLoS manteve os preços no mesmo patamar, durante o período. Curiosamente, os valores para a versão híbrida ou gold diferem muito pouco.
O artigo detalha seus métodos, seus cálculos e chama as editoras para serem mais transparentes, em nome da integridade na condução desse negócio milionário e auxiliando também a enfrentar a indústria dos paper mills, uma briga de cachorro grande para preservar a qualidade da pesquisa publicada e a confiança do público na ciência como um todo. Já tem muita gente debatendo o que fazer para minorar os custos para os pesquisadores e para as instituições, mas ainda sem boas soluções no horizonte. Uma possibilidade é a proposta do acesso diamante (https://universityaffairs.ca/news/news-article/open-access-a-diamond-in-the-rough/) onde os custos são bancados pelos financiadores, instituições e universidades e o pesquisador e o leitor têm acesso livre. Um modelo de certa forma similar ao do nosso SciELO Brasil, mas com acesso mais abrangente e podendo incluir as revistas de alto impacto.
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